sexta-feira, 23 de maio de 2014

Divino e Maravilhoso (Gil e Caetano) - Por: Thamires Lopes

(Imagem: Internet)
“O ano era 1968. Caetano Veloso, expoente-mor da Tropicália, brigava com o público no III Festival da Canção. A reação da plateia ao seu "É Proibido Proibir" não foi das melhores, e a revolta do baiano foi justamente por não visualizar sua mensagem recebida. Os urros e vaias dos ouvintes impediam que o discurso anti-censura de Caetano fosse concebido como objeto de protesto naqueles anos de chumbo.

A música brasileira decididamente não era mais a mesma - além da leveza da Bossa Nova e todo o movimento da Jovem Guarda, as poesias reacionárias do movimento tropicalista causaram desde então um ruído poderoso. Os seus representantes - Gil, Caetano, Bethânia, Tom Zé, Mutantes foram endeusados e amaldiçoados ao mesmo tempo, e chegava a ser constante a quantidade de vaias e aplausos que paradoxalmente obtiam em suas manifestações artísticas.

No mesmo 68, contudo, outra música de Caetano, dessa vez composta em parceria com Gilberto Gil, conseguiu imprimir um outro discurso, que, a despeito de ter sido no calor do auge da Tropicália, ainda se faz oportuno a cada audição, nos dias de hoje. "Divino Maravilhoso" coroou o lançamento do disco de maior manifesto dos Tropicalistas, o "Tropicália ou Panis Et Circenses", no mesmo ano, com participações de Nara Leão, Gal Costa e dos Mutantes. Gal já vinha construindo sua imagem de boa moça que cantava bossa sentada num banquinho - Caetano lhe ofereceu a canção e perguntou como ela queria cantá-la: "de uma forma nova, explosiva, de uma outra maneira'. Gil se comprometeu a fazer um arranjo à altura e a moça foi projetada para todo o Brasil em Novembro do mesmo ano, ao interpretá-la no Festival da Música Brasileira, da TV Record. Causou uma estranheza inicial no público - Gal estava incrível - agressiva e cantando de forma quase irreconhecível, caprichando nos agudos e explorando sem limites toda potencialidade de sua voz. Também houve uma ruptura total de sua imagem bem comportada: polemizou com cabelo black power e colares bufantes, numa atmosfera completamente hippie. Aos poucos, suavizado pelo primeiro impacto - o público relaxou e começou a aplaudir a grandiosidade da apresentação. A mensagem era, finalmente, transmitida e entendida - atenção para o palavrão, para a palavra de ordem - tudo é perigoso, tudo é divino e maravilhoso. O jogo de paradoxos se fez oportuno e eternizou uma das melhores músicas já produzidas na música popular brasileira. E o referido episódio mostra que a maneira de se c(a)ontar é tão importante quando o conteúdo...”
                                                                                                                               (Site: Entulho)




Atenção / Ao dobrar uma esquina /  Uma alegria
Atenção, menina / Você vem / Quantos anos você tem?

Atenção / Precisa ter olhos firmes / Pra este sol /
Para esta escuridão

Atenção / Tudo é perigoso / Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte

Atenção/ Para a estrofe, para o refrão
Pro palavrão / Para a palavra de ordem

Atenção / Para o samba exaltação
Atenção / Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso / Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte

Atenção / Para as janelas no alto
Atenção / Ao pisar no asfalto mangue
Atenção / Para o sangue sobre o chão

É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte

Atenção / Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso / Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte


Divino maravilhoso é uma canção que nos mostra o quanto o movimento sofria sérias represálias. A ditadura estava em seu auge, e todos deveriam ter a atenção na hora de se expressar, pois qualquer expressão poderia ser motivo de prisão, exílio ou extermínio.

Com isso a letra diz em sua primeira estrofe: “Atenção /Ao dobrar uma esquina / Uma alegria / Atenção, menina / Você vem / Quantos anos você tem?
Atenção / Precisa ter olhos firmes / Pra este sol / Para esta escuridão”

Já em sua terceira estrofe, temos uma forte metáfora nos dizendo o quanto tudo é maravilhoso, aos olhos governamentais da época, já que tudo que era divulgado, toda expressão era controlada e monopolizada perante o que o governo queria. Por isso a citação de que tudo era perigoso, pois se alguém saísse fora da linha determinada pela ditadura, sofreriam sérias conseqüências. “Atenção /Tudo é perigoso /Tudo é divino maravilhoso / Atenção para o refrão”

Em sua quarta estrofe, podemos dizer que os compositores pediam para que aqueles que eram contra todo essa ação governamentalista e militarista, ficassem fortes e firmes, para não temerem as conseqüências e assim ir contra todas as represálias e direcionamentos dados pela ditadura.

 É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte / É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte.

E assim segue a canção, explicitando que tudo é “Divino e Maravilhoso” aos olhos dos governantes e militares, resultado da “limpa” que os mesmo faziam dia após dia no país - pois até a música brasileira estava presa nas garras militantes-, para que tudo ficasse dentro de padrões ditados para os cidadãos da época. Com avisos de cuidados, mas também com motivação para serem fortes e não deixarem com que a ditadura os guiassem, para que as expressões não sejam escondidas e que não temessem as conseqüências, na esperança da mudan
ça.

A música então tornou-se um programa televisivo, de mesmo nome, comandado por Gil e Caetano, semanalmente. O programa
acabou gerando manifestações de repúdio da ala mais conservadora e careta da sociedade. Pais de família escreviam cartas cheias de ira para a direção do programa e políticos de cidadezinhas do interior se revoltaram com o que chamaram de “agressões”.

O “Divino, Maravilhoso”, acontecia todas as segundas-feiras, ao vivo, tinha auditório livre para o público e cenário mutante. Eles receberam nos programas convidados, como Mutantes, Tom Zé, Torquato Neto, Nara Leão, Juca Chaves e Paulinho da Viola, entre outros
.


Programa Divino e maravilhoso (Imagem: Internet) 
Bibliografia:
Site:  Entulho
Site:  Tropicalia

2 comentários:

  1. Thamires, boa pesquisa só fique atenta ao retirar todo o conteúdo de uma fonte só. Por exemplo, na 2a linha do 2o parágrafo há a seguinte afirmação "poesias reacionárias" da tropicália. Será que é isso mesmo?

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  2. Pois é, Thamires. Sobre o que Alexandra diz, o problema é que o termo "reacionário" é usado para designar pessoas que reagem a uma investida revolucionária. Nesse caso, a poesia da tropicália não pode ser designada de reacionária.

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